Quem precisa ser salvo: o jornal ou o jornalismo?

A busca “save” + “journalism” + “newspapers” é o hype da nossa profissão. A mídia repercute o apelo de Walter Isaacson pela salvação dos jornais americanos publicado na Time e também no Huffington Post, belíssimo exemplo de mídia independente nascida na Internet e que ajudou a confrontar o monopólio da imprensa em papel (note a “sutil” diferença entre os títulos do artigo numa e noutra publicação).

O próprio HuffPo, em outro texto bastante lúcido, pontua corretamente que quem precisa ser salvo são os jornais, não o jornalismo. O advento da tecnologia e novas mídias, pelo contrário, só trouxe benefícios à função de apurar/filtrar/difundir notícias.

De novo, e para não perdermos o foco, esse cenário de guerra todo diz respeito, no momento, a Estados Unidos e alguns países europeus, notadamente os mais desenvolvidos. Em Londres, o Times acaba de promover um passaralho. Na Espanha, jornais gratuitos (um sucesso nas ruas, mas um fracasso comercial) fecham as portas.

No Brasil (assim como em outros países emergentes), ainda há bastante espaço para o jornalismo impresso crescer. Milhões de pessoas atravessaram há pouco a linha da pobreza e, certamente, ainda haverá mercado (arrisco a dizer por décadas) para esse tipo de produto.

É por isso, talvez, que por aqui a discussão sobre o fim do jornal impresso ainda seja tão incipiente. Nossos veículos se escoram em pequenas vitórias _como uma desaceleração menor do que a esperada no faturamento, por exemplo_ para justificar o adiamento do debate.

5 Respostas para “Quem precisa ser salvo: o jornal ou o jornalismo?

  1. Alec, concordo sobre os benefícios da tecnologia, mas minha questão é se não temos uma crise do jornalismo embutida nesta crise do impresso. Que tipo de negócio vai sustentar financeiramente um jornalismo crítico e independente?

    • Renato,

      É precisamente o que estamos discutindo agora. Você acha, por exemplo, que o modelo sem fins lucrativos (portanto passível de receber dinheiro governamental) é independente? Por outro lado, hoje as três esferas de governo já não são alguns dos principais anunciantes dos jornais país? Logo, muda pouco ou nada, né?

      Novidade mesmo só o Los Angeles Times, cujo faturamento do produto on-line paga com sobras seus custos. Eu acho que aí está a chave para tentar compreender o que pode ser feito daqui para a frente.

      abs

  2. Pingback: Ainda os micropagamentos: você doaria dinheiro ao seu jornal? « Webmanário

  3. Sim, Alec, mas não estavam pensando em um modelo sem fins lucrativos com sendo a solução e concordo com vc que a receita não pode vir somente (ou predominantemente) de fontes oficiais, sabemos o que isso implica para jornais e revistas. Estava me referindo a um tipo de jornalismo que custa caro, demanda investimento profissional e técnico, e do qual a internet se alimenta. Minha questão é se a crise no impresso não seria somente uma questão de formato, mas também implicaria uma mudança num determinado modo de se fazer jornalismo e as consequencias para a esfera pública que isso pode acarretar. Bem, vou seguir o link que sugeriu e formular melhor essas perguntas… Abs

    • Renato,

      Excelente discussão. Há tempos temos alertado, em nossas aulas e conversações profissionais, que o fim do investimento em grandes reportagens e investigação tinham um motivo claro: seu custo.

      Tocamos o fundo do poço e uma série de outras características do jornalismo em papel terão de ser forçosamente abandonadas por impossibilidade de cobrir seus custos? Tudo a ver o que vc levantou, vamos pensar sobre o tema.

      Agora, se eu tenho um on-line que dá lucro e se paga sem precisar ficar a reboque do papel, caso do Los Angeles Times, é forçosamente um objeto de análise. E talvez um caminho para preservar essas características perdidas num meio muitíssimo mais barato.

      abs

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